Curiosidades:
Divirtam-se
e aprendam com o grande O'Hara. (Texto de ficção)
Em 1884 James
O'Hara saltou de pára-quedas juntamente com sua mãe,
sua avó, sua namorada (na época) e sua cachorrinha
(Pupy). Tendo feito várias manobras no ar, muitas das quais
totalmente desconhecidas (na época), chegou a tomar chá
durante a queda (que havia preparado também durante a queda).
No entanto o inesperado aconteceu, sua avó que sofria das
coronárias teve um súbito ataque com parada cardíaca.
Isto acontecendo já estava a 4.000 pés quase impedindo
que O'Hara fizesse o procedimento de emergência. Conseguiu
reanima-la (graças a Deus!) por volta de 2.500 pés
quando percebeu que a cachorrinha Pupy, seu xodó, havia
comido a xícara e estava já virando os olhos. Não
teve dúvida, acionou ele mesmo o comando do pára-quedas
de sua avó que lhe acenou agradecida. Juntou os braços
e alcançou Pupy que já dava seus últimos
suspiros, ou penúltimos pois James O'Hara mais uma vez
demonstrou que era um herói. Aplicou um boca-a-boca no
pequeno animal e sugou para fora uma xícara, um pires e
o bule de chá, que, lembrou-se, pensara ter perdido lá
pelos 3.000 pés. A cachorrinha latiu lânguida quando
O’Hara também acionou seu comando.
Pelos 2.500 pés sua mãe, mais experiente que ele,
acionou seu comando normalmente. O'Hara ficou contente por não
ter que salvá-la mas logo ficou lívido pois assim
que acionou o seu comando seu velame não se abriu. Não
hesitou, com muito pesar jogou todo o conjunto de chá fora,
bem como a bananinha que havia desconectado. Bem após puxar
o punho ficou aterrado, seu reserva não se abriu, rezava
para que sua ultima esperança se verificasse: o sagüi.
Sim senhores, em uma época em que não existia nosso
querido FXC (dispositivo de acionamento automático do pára-quedas) os pára-quedistas treinavam pequenos sagüis,
ou macaquinhos, como queiram, para puxar o reserva. Bem, o sagüi
de emergência conseguiu abrir o reserva, mas começou
a arrancar chumaços dos já ralos cabelos de O'Hara.
Com dores terríveis e sem conseguir agarrar o temível
primata James O'Hara descuidou do direcionamento de seu pára-quedas
quase chocando-se em um elevado rochoso, teve de fazer uma manobra
mais extrema que quase lhe custou a vida, mas serviu para lançar
o maldito sagüi para o vazio, indo o odioso mecanismo do
reserva espatifar-se em um espinheiro. James O'Hara exultou, mas
em seguida teve pena do bicho, pousou calmamente lamentando pelo
aparato de chá que se perdeu, quase mesmo esquecendo sua
Avó que precisava de atendimento médico urgente.
Ficou ao menos aliviado por não ter perdido a mesa e as
cadeiras.
Termina assim esta prestigiosa e fantástica aventura de
um dos mais famosos pára-quedistas do século 19,
o Grande O'Hara.
Ao final de
1884 mudanças radicais ocorreram na vida de James O'Hara.
Sua namorada Melissa Stephens o deixou. Isto por causa do sagüi,
que por um ato de Deus sobreviveu a queda. Melissa acusou-o de
bruto, cruel, inimigo dos animais e da natureza. Melissa, como
todos sabem, veio a fundar o Green Peace, do qual depois se desligou
para se tornar a primeira eco-terrorista de que se tem noticia.
Assim amargurado pela perda, O'Hara reuniu-se com seus amigos
em salto de 12.000 pés. Resolveram jogar cartas lá
pelos 11.000 pés. Alguém levou bebida e O'Hara,
tendo bebido demais, começou a chorar e a beijar o sagüi
de emergência como se fosse Melissa. Custou ate os 10.000
pés faze-lo parar de beijar o símio. Quando então
ele começou a vomitar, arruinando completamente a poltrona
onde estava sentado. Seu amigo Rudolf Dwartz, achou melhor que
ele se levantasse e tomasse um pouco de ar, coisa que fez, mas
tão bêbado estava que teve dificuldades em fazer
a sela. Deixando por acidente escapar a poltrona viu horrorizado
que, marcando o altímetro os 8.000 pés, o pesado
móvel estava se dirigindo para uma pré-escola holandesa
famosa por seus alunos de alto quociente de inteligência.
O'Hara amaldiçoou o brandy, admoestando a si mesmo e tentando
achar uma solução pois a poltrona faria certamente
vítimas, as crianças estavam todas juntinhas olhando
para cima maravilhadas. Nisso continuava o instrumento de suas
sentenças de morte aproximando-se em alta velocidade. Ficando
em posição de mergulho desceu a 4.000 pés
em um instante, alcançando o móvel, que estava de
pernas para cima. Ora, O'Hara estava muito alcoolizado mesmo,
nem sequer conseguia se estabilizar, muito menos fazer alguma
coisa. Foi neste momento que o seu sagüi de emergência
saiu de seu equipamento e enrolando as pernas (que também
tem mãos) ao redor do pescoço de James O'Hara, ficou
imediatamente em posição de sela, equilibrando O'Hara.
O Grande O'Hara abençoaria o símio, mas estava fora
de si, além do que as pernas do animal tapavam-lhe a visão.
Por uma brecha viu o altímetro em 3.000 pés e deixou
escapar um grito. Arregalou os olhos para baixo quando conseguiu
livrá-los e, de onde estava já podia ver uma movimentação
de incerteza nos infantes. Neste momento (2.500 pés) acionou
o comando, após o check puxou a bananinha segurando várias
linhas com as mãos, ao chegar aos 2.000 pés já
havia conseguida amarrar o velame principal na poltrona. Com um
impulso separou-se dele e abriu seu reserva manualmente. A poltrona
diminuiu a velocidade de sua queda permitindo que as criancinhas
fugissem a tempo. Mas ao olhar para cima para fazer um agrado
no macaco O'Hara com um choque viu que ele não estava lá.
Olhou ato continuo para baixo e viu o pobre sagüi, em cima
da poltrona, guinchando e agitando os braços, com lágrimas
nos olhos, caindo para o nada, para o esquecimento. Logo tudo
estava acabado e O'Hara, em entrevista a imprensa disse, "aquele
sagüi não era só um dispositivo de emergência,
era um herói", e o Grande O'Hara não conseguiu
conter as lágrimas. Este é mais um capítulo
da vida de aventuras do Grande O'Hara, o maior pára-quedista
do séc. 19.
Dizem que em um momento de descontração (outra vez
bêbado), James O'Hara chegou a confessar que nunca mulher
nenhuma o havia beijado como aquele macaco. Mas disto duvidamos
pois muita gente sempre invejou O' Hara o Grande.
Em 1885 James
O'Hara, em suas pesquisas arqueológicas (outro de seus
hobbys), veio a ter em mãos o manuscrito perdido de Arnen
Saknussen. Este arqueólogo, famoso nos meios científicos,
defendia a hipótese da terra ter grandes espaços
ocos em seu interior. Achava que era mesmo possível ir
ate o centro da terra. Em uma de suas expedições,
normalmente ate vulcões extintos ou platôs antigos,
desapareceu sem deixar vestígios. Bem, uma espécie
de diário de Arne Saknussem veio a cair nas mãos
do Grande O'Hara. Nosso herói, na verdade, pretendia apenas
guardá-lo como um objeto raro. No entanto, em certa altura
do alfarrábio, Saknussem fala a respeito de um grande poço,
uma enorme abertura num promontório na cidade de FritsKrieg,
ao norte da Boécia (atual Brugunia). Bem, Saknussem fazia
considerações totalmente desconcertantes sobre a
região da Brugunia. Dizia que estava localizada sobre uma
passagem , ou buraco, que atravessaria a terra completamente,
de lado a lado, um abismo que não teria fundo, onde a gravidade
iria diminuindo conforme se caísse em direção
ao centro. Cair, queda, alturas, estas palavras realmente influenciavam
James O'Hara, ate que uma idéia louca se formou em sua
mente: um salto, queda livre no abismo de todos os abismos, no
vazio e escuridão completos, no berço dos homens,
uma travessia pelos recônditos mais secretos da Terra. Vocês
que me lêem sabem como era James O'Hara, sua força
de vontade não era suplantada por nada. Resumindo, antes
que o leitor possa dizer Boécia (atual Brugunia) o Grande
O'Hara já havia entrado pela abertura do promontório
de FritsKrieg e estava já, após muita exploração
a beira do enorme buraco transmudo. Era mesmo verdade, Fritskrieg
estava sobre o grande abismo e ali estava James O'Hara, com seu
equipamento preparado tanto para pára-quedismo quanto para
alpinismo. Ele calculara que iria parar no centro da terra quando
após passa-lo voltasse e voltasse novamente pois neste
ponto a gravidade se equilibraria (se Saknussem estivesse certo).
Provavelmente demoraria dias e dias ate chegar ao centro, mas
com uma técnica especial de meditação (aprendida
em suas experiências com o pára-quedismo) pretendia
entrar em uma espécie de transe controlado onde poderia
ficar ate seis meses sem comer. Aquele momento seria, pensava
ele, o topo de sua carreira. Aquela bocarra escura do precipício
de FrtsKrieg abria-se pronta para engoli-lo. Mas assim são
os pára-quedistas, intrépidos, e logo o maior deles
não seria diferente. Preparou-se, como fazia ao saltar
de um balão, checou o equipamento, verificou se o sagüi
estava preso corretamente, finalmente beijou o retrato de Melissa
(que secretamente ainda amava) e lançou-se sobre o desconhecido,
numa queda sem fim ate o centro da terra. O inicio da queda foi
angustiante para o nosso herói. Não podia ver as
bordas e , mesmo que elas fossem lisas, poderia se ferir se esbarrasse
nelas. Um vórtex invisível de escuridão e
sons terríveis, como de criaturas fosseis, envolvia o ar
e era cada vez mais difícil respirar. Pela primeira vez
pensou na hipótese de ficar sem oxigênio, mas após
as primeiras horas de uma queda inigualável O'Hara se tranqüilizou,
o ar era pesado e viciado mas respirável. Foi quando James
O'Hara iniciou seu diário conhecido como "Underground
Fall Log", o relato de O'Hara o Grande em sua fantástica
queda livre na escuridão abissal e antediluviana de FritsKrieg.
Em sua primeira anotação escreve O'Hara:
"Caindo, talvez para a morte, não consigo deixar de
pensar em Melissa, que após sair do comando eco-terrorista,
casou-se com Dr. Barata Ramos, um contador. Gostaria de dizer
que fico satisfeito, mas tenho pena e sinto que ainda a amo. Esta
queda significa muito para mim, só mesmo um pára-quedista
teria a necessária audácia para tentar esta empreitada.
Tenho certeza que qualquer um de meus colegas, que ainda são
poucos, teria sangue frio para tanto; aqueles que fazem como as
águias são sem dúvida como elas. Tentarei
ao longo da queda, conforme for sentindo uma forca menor da gravidade
sobre mim, diminuir a velocidade usando um aparato que trouxe
comigo. O mais difícil é manter esta vela acesa
para poder escrever. Fecho por agora este relato na escrivaninha,
que esta amarrada a mim, e estendo no ar meu colchonete para tentar
dormir um pouco. Creio que serão muitos dias de escuridão.
P.S.: De repente me ocorreu: como farei para ir ao banheiro sem
ter a experiência desagradável de ver meus próprios
dejetos em queda livre ao meu lado. E sem contar que serão
vários dias! Assim que resolver estes e outros problemas
práticos voltarei a registrar neste documento."
Como todos
devem estar lembrados o grande pára-quedista do séc.
19, James O'Hara, em contato com documentos que haviam pertencido
a Ahrnen Sakhnussen, chegou ate a abertura subterrânea em
FritzKrieg. Lançou-se então no vazio sepulcral e
longe de toda a luz, entrando em queda livre, desafiando a morte
no vórtice desconhecido. Bem após alguns dias de
queda livre, James O'Hara, acordando de uma pequena pausa para
descanso, consultou seu relógio pelo tato (não queria
gastar as velas, guardava-as para o diário ou para verificar
algo importante). Pareciam ser 02:00 hs., mas da manhã
ou da tarde? Não sabia dizer. Começou a sentir enjôos
terríveis e dores corporais.
De seu diário extraímos esta passagem. Do "Underground
Fall Log":
"Não tenho certeza, mas creio já estar caindo
ha dois dias e algumas horas.
Não posso dizer ao certo. Um desconforto físico
inicial tornou-se, gradativamente, em enjôos e dores no
abdômen e cabeça. Chego nos piores momentos quase
a desmaiar. Para me distrair da dor tentei jogar um pouco de paciência
reconhecendo as cartas pelo tato, mas eu confundo o naipe de ouros
com o de copas, não da certo. Hoje algo ocorreu que me
deixou apreensivo, mas talvez seja apenas minha imaginação,
minha meditação pode estar me pregando peças.
Mesmo assim, por alguns instantes meu sangue se congelou nas veias
e fiquei em tal estado de confusão que quase causo minha
própria morte. Por volta de meia noite (ou meio dia) me
desestabilizei devido ao que me pareceu um objeto passando por
mim a mais ou menos 215,858 km/h. Devido ao deslocamento de ar
rotacionei dez vezes antes de voltar ao controle da queda. Mas
mesmo antes, na quinta volta, eu havia sacado meu Zippo (achei
este isqueiro na queda, no primeiro dia) e acendido uma das velas.
E ali, caindo na escuridão, vislumbrei o que aterradoramente
me pareceu um rosto, uma face praticamente descarnada. Tudo aconteceu
rápido demais; aterrado vi o vulto dono daquele rosto,
envolto numa espécie de capa escura, mergulhando, os ossos
de uma das mãos aparecendo. Tudo em segundos, ainda assim
foi como se o tempo se arrastasse. No sexto giro do corpo me choquei
contra o muro e desmaiei. Quando acordei estava trêmulo,
preparei um chá de camomila para acalmar mas a chaleira
não esquentava com a chama da vela. Tive de acender duas.
Graças ao isqueiro consegui. Tomei o meu chá ainda
deitado no colchonete, escorregando pelo espaço escuro,
só com meus pensamentos e o sagüi de emergência
que soltei um pouco para ele esticar as pernas, lembrou-me alguém,
acho que outro macaco, sei lá... mil coisas.
Mudando um pouco de tema quero dizer da solução
que encontrei para me livrar dos dejetos, para não ter
que ficar em queda livre com a sujeira. Estou evacuando em saquinhos
plásticos (que sobram dos amendoins). É difícil
mas pelo menos estes indesejáveis subprodutos caem embalados.
Acredito que, chegando ao centro do planeta poderei me livrar
deles. Agora tenho certeza de que o corpo com face descarnada
foi o efeito desta queda vertiginosa em um organismo debilitado
pela diminuição de pressão atmosférica
e outras condições anômalas. Encerro por enquanto
este registro."
Tal foi o
registro no segundo dia de queda de O'Hara. Onde chegara a conclusão
de que o evento ocorrido havia sido apenas imaginado. Mesmo assim
ficou atento para o caso de encontrar mais abaixo, novamente,
o vulto envolto na capa.
No inicio do décimo dia James O'Hara lia o jornal (nosso
herói instruiu o jornaleiro de Fritskrieg para jogar o
jornal diário da cidade todos os dias pela abertura, enrolado
em um pedra pequena e pesada para diminuir a resistência
do ar), quando algumas gotas de um líquido pegajoso caíram
no papel, queimando-o imediatamente, abrindo assim vários
buracos no mesmo.
Logo em seguida um verdadeiro jorro passou a centímetros
de distância de seu braço queimando-o parcialmente.
O Grande O'Hara gritou de dor e imediatamente enrolou os ferimentos
em pedaços de sua colcha. Saiu da posição
de cela para descer rapidamente, fez isto por três horas.
Embora nada se visse olhando para cima ele sentia uma presença
hedionda vindo do alto, distante agora mas aproximando-se, talvez
com uma forma que retardasse sua queda. De repente tudo ficou
claro, o que vira antes era um corpo, provavelmente outro pára-quedista.
Algo o pegou e neste momento James O'Hara olhou para cima com
o coração oprimido por um pensamento construído
pela primeira vez: alguma coisa babando ácido pairava por
sobre ele, perseguindo-o, talvez para se alimentar. Alguma coisa
babando no escuro em queda livre, alguma coisa lá em cima...
Em 1886 a
imprensa conseguiu descobrir sobre o projeto de James O'Hara de
descer o abismo sob FritsKrieg. Era segredo mas acabou vazando
primeiramente por comentários do rapaz que jogava os jornais
embrulhados em pedras pela gigantesca bocarra nas rochas por onde
o Grande O'Hara se aventurara. Mas quando isto aconteceu já
iam seis meses desde que o famoso esportista se aventurara. Muito
se comentava a respeito do aconteceria, muitos o julgavam morto,
outros acreditavam que havia se perdido mas que a qualquer momento
iriam ouvir notícias dele.
Enquanto todas
estas coisas se passavam na superfície, nos recônditos
escuros da Terra James O'Hara estava se recuperando de um verdadeiro
combate aéreo como nunca viu, primeiro por não ter
se dado entre aeronaves e sim entre dois seres vivos diametralmente
diferentes, segundo porque não se deu acima da superfície
da terra e sim abaixo. Enquanto pequenas criaturas com formato
aproximadamente ovóide flutuavam a seu redor James O'Hara
recordava os acontecimentos dos últimos meses, dos quais
passou a maior parte se recuperando de sua aventura em câmaras
escuras e inimaginadas pelos que tem o privilégio de caminhar
ao sol. O ser mais familiar próximo a ele agora era seu
sagüi de emergência pelo qual se afeiçoou e
que apelidara de Herman. Os eventos que quase custaram sua vida
iniciaram quando apos um mês de queda James O'Hara, ao acender
uma das últimas velas de que dispunha, percebeu o que pareciam
ser pequenos olhinhos que o acompanhavam. O susto foi tal que
a vela caiu de suas mãos apagando-se. O Grande O'Hara então
mergulhou tateando o espaço vazio, encontrando sua já
escassa fonte de luz. Preparando-se para o que iria ver acendeu
novamente a vela e, espantado, divisou pelo menos oitenta seres
totalmente absurdos caindo junto a ele. Eram redondos e pareciam
ter a textura do couro. Tinham pequenos olhos escuros e esbugalhados
que pareciam secos. Não tinham pálpebras. Possuíam
dois pares de braços que mais pareciam as patas dianteiras
de um louva-a-deus. Havia centenas deles e, com controle impressionante,
faziam manobras complexas e precisas ao redor do homem totalmente
aturdido. Tentou comunicação com eles por bastante
tempo, tentou acompanhar suas manobras mas nada obteve alem de
um som irreconhecível. Acostumou-se a eles nos dias que
se seguiram e fez registros no Underground Fall Log:
"Estas pequenas criaturas são simplesmente maravilhosas.
Descobri que, aparentemente podem alterar seu tamanho e sua densidade
individualmente. Podem inclusive parar sua queda. são amigáveis
mas não parecem ser muito inteligentes. Esta parte do Abismo
de FritsKrieg não é totalmente lisa. Há rugosidades
e imperfeições nas paredes. Pareceu-me ver aberturas
nas paredes, mas passo por elas muito rápido para poder
observar melhor. Creio que é de onde vem estas criaturas
que apelidei de Grietziz. Não sei do que se alimentam,
talvez de componentes aéreos invisíveis, como baleias
se alimentam de plâncton. Não creio que tenham sido
estas criaturas que derrubaram sobre mim a substancia ácida.
Alguns insetos, como as moscas,derrubam sobre os alimentos enzimas
que iniciam a digestão para depois absorvê-los. Talvez
algum predador destas pequenas criaturas utilize o mesmo método.
Este pensamento me preocupa. Seja o que for ainda esta lá,
em algum lugar. E se tiver metade da mobilidade dos Grietzis no
ar, então é muito perigosa".
James O'Hara
e Herman , seu macaco de emergência, que as vezes ajudava
fazendo pequenas anotações rápidas, ou mesmo
desenhos de reconhecimento, foram dormir preocupados. Uma sombra
se estendia sobre o salto do século, sobre a queda vertiginosa.
Mas O'Hara sabia que não se podia engendrar algo tão
grandioso sem despertar poderes e pesadelos ocultos. Aquela sessão
de sono, sem ser possível definir se era dia ou noite,
era precursora do pesadelo que se seguiria. O Grande O'Hara acordou
com o guincho de Herman, um ruído aterrador. Estavam caindo
agora em uma parte do grande poço onde as paredes eram
fosforescentes. Aquela luminosidade, ainda que pequena, feriu
os olhos de O'Hara, acostumados com a escuridão. Mas não
teve tempo de pensar no fenômeno: acima deles uma sombra
gigantesca e amorfa ,quase cobrindo todo o abismo, aproximava-se
rapidamente. Uma espécie de chuvisco de ácido começou
a fazer a pele de James O'Hara arder. Herman guinchava e esfregava
os olhos aterrorizado. O'Hara mergulhou completamente reto, cabeça
para baixo. Sentia como se suas vísceras estivessem se
deslocando devido à aceleração. A luminosidade
azul nas paredes continuou por um tempo depois desapareceu. O
escuro e o sufocamento devido aos resíduos de ácido
fizeram O 'Hara perder a noção de espaço.
Ele sabia que se arriscava a tocar uma parede, o que seria morte
certa, mas não tinha escolha. Depois de alguns minutos,
quando parecia ter ganho terreno, a mesma neblina de ácido
o envolveu novamente. Não podia vê-lo mas sabia que
ele estava lá, sem nenhum membro ou mesmo forma definida.
Acreditava que a neblina ácida era só um prelúdio
para o jorro da substância. A coisa devia estar se preparando
para se alimentar. Devia atacar, como pensara antes, os Grietzis,
mas com uma presa maior abriu mão deles para o perseguir.
Neste instante gritou meio que irracionalmente : "Seu desgraçadooo!!!".
Ato continuo, retirou a pistola de sinalização da
mochila, manobrou o corpo para cima não ficando cego com
a neblina ácida graças aos óculos protetores,
disparou o sinalizador para cima. A luz cegou-o mas apos alguns
segundos viu dois pontos de chama naquela geléia viva e
mortal. Na luz algo como um olho se projetou daquela massa e James
O'Hara teve a intuição de expressão naquele
ato. Afastou-se da criatura e observou que ela encolhera e perdera
a estabilidade, estava agora com dez metros de diâmetro
quando antes cobria quase todo os espaço disponível.
O que parecia um olho, em dado momento, transformou-se por alguns
instantes. O'Hara ficou aterrado, era o seu rosto que a
criatura formava de sua substância pútrida e mortal.
O rosto parcialmente deformado gritou com um ruído parecido
a uma ponta metálica gigantesca sendo raspada sobre o aço.
Neste instante a grande massa ganhou velocidade e passando velozmente
por O'Hara caiu sem controle. Viam-se tentáculos se projetando
numa tentativa desesperada de se agarrar na parede mais próxima
enquanto o rosto, que era uma versão monstruosa do seu
olhava para cima com ódio sem cessar seu urro de fúria
e metal. James O'Hara sabia naquele momento que nunca mais esqueceria
aquilo. Sentia o corpo todo ardendo. Estava quase sufocado, quando
finalmente desmaiou. Acordou no que parecia uma caverna baixa
com Grietzis voando por todo lado. Compressas do que parecia musgo
estavam em todo seu corpo e também no de Herman. Entendeu
que os Grietzis haviam salvo sua vida e que eram inteligentes,
a despeito do que pensara antes. Passou-se muito tempo até
que pudesse se levantar e ir ate a beira da saída de caverna
mais próxima. A luz fosforescente agora estava em todo
lugar. Olhando pela beira do abismo até onde a luz alcançava
não se via nada. não havia desistido de seu propósito,
assim que seu estado permitisse sabia que se arremessaria novamente.
Esperava apenas que não houvessem mais coisas amorfas como
aquela. Pensou no mimetismo, na cópia de seu rosto feita
pelo animal. Um frio na espinha lhe lembrou de inevitáveis
pesadelos que tivera nestes dias. Seu rosto estava manchado
pelo ácido e ficaria assim pelo resto de sua vida. Mas
o "Underground Fall Log" continuaria.
E
a aventura continua com a gente, SKYDIVE!!!
Autor: Desconhecido
.:
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